A Santarém medieval foi uma vila animadíssima, com intensa atividade produtiva e comercial, na qual as atividades culturais encontraram condições para a sua florescência. O estabelecimento de uma aristocracia empreendedora patrocinou o surto arquitetónico que, no quadro nacional, alcançou carácter de vanguarda, manifesto na construção de numerosos palácios e edifícios religiosos. As primeiras manifestações do gótico em Santarém ficaram a dever-se às ordens mendicantes, dominicanos e franciscanos, chegadas no séc. XIII, e responsáveis pela construção de grande número de igrejas e conventos. Corolário desta conjuntura política, económica, social e cultural, algumas das mais notáveis construções do gótico português surgiram em Santarém, propiciando-lhe justamente o título de “Capital do Gótico” em Portugal.
Santarém, viveu os séculos da Idade Moderna consideravelmente favorecida, a ponto de ver surgir dentro do seu espaço grandes vultos da ciência, das artes, das letras e das armas. A sobrevivência do modelo gótico avançou pelo séc. XVI, apresentando, todavia, uma evolução que coincidiu com novas propostas estéticas, ao longo de parte do reinado de D. João II e de D. Manuel. O esplendor que se desfrutou na Vila, no início do séc. XVI, fruto do capitalismo mercantil florescente e da presença regular da Corte nos Paços de Almeirim, proporcionou o desenvolvimento urbano e monumental. O manuelino encontrou o tempo e o lugar para conjugar tendências anteriores e introduzir novos programas, sobretudo ao nível da decoração, valorizando as interpretações locais e regionais. O peso crescente da cultura humanística, na corte de D. João III, de austero espírito católico, explorou a nova tendência estética de origem italiana, o renascimento, que nos chegou inicialmente através das formas decorativas e, mais tarde, com a arquitetura, marcando na vila espaços de fina conceção erudita.